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Oxiúros

Existem pequenos vermes brancos que gostam de morar em nosso intestino. Durante séculos, adaptaram seu comportamento a nós. A cada duas pessoas, uma já teve pelo menos uma vez na vida esses vermes como hóspedes. Algumas nem percebem; em outras, ele é um verdadeiro tormento, sobre o qual pouco se fala. Se olharmos no momento certo, poderemos vê-los acenar para nós ao saírem pelo ânus. Têm de um a um centímetro e meio, são brancos e possuem uma extremidade relativamente pontiaguda. De certo modo, lembram um pouco as trilhas de condensação que os aviões deixam no céu, só que, ao contrário delas, não se alongam cada vez mais. Quem tiver boca e dedos poderá pegar oxiúros. Nesse caso, quem não tem boca nem dedos sai ganhando.

Comecemos por descrever a situação do verme pelo final. A senhora oxiúro em estado “interessante” quer oferecer aos seus ovos um futuro seguro. E isso não é nada fácil. O ovo precisa ser engolido por um ser humano, depois infiltrar-se no intestino delgado para que chegue ao intestino grosso já como oxiúro adulto. Neste momento, uma senhora oxiúro adulta encontra-se nos fundos do intestino – em uma direção completamente contrária à da digestão – e se pergunta como voltar à boca. E aqui entra a inteligência que supomos ser a única em um ser como esse: a inteligência da adaptação.

As fêmeas dos oxiúros sabem quando ficamos tranquilos, nos deitamos e estamos sem vontade de levantar. É nesse momento que partem para o ânus, em cujas inúmeras pregas depositam seus ovos e rastejam como loucas, até sentirmos coceira. Então, voltam correndo para o intestino, pois, por experiência, sabem que agora virá uma mão para fazer o resto. Debaixo da coberta, ela é empurrada no traseiro, bem na mira do ataque de coceira. As mesmas vias nervosas que transmitiram a coceira anunciam: “Favor coçar!”.

Atendemos a esse pedido e fazemos com que os descendentes dos oxiúros sejam transportados por via expressa a regiões próximas à boca. Qual é o momento em que estamos menos interessados em lavar as mãos depois de coçar o traseiro? Quando não estamos pensando em nada porque estamos dormindo ou cansados demais para levantar. Justamente o momento em que o oxiúro deposita seus ovos. Alguma dúvida sobre o que significa sonhar, logo em seguida, que se está enfiando o dedo na torta de chocolate? Ovos a caminho de casa. Quem fez “eca!” talvez tenha esquecido que também engolimos ovos de galinha. Só que estes são bem maiores, e geralmente os cozinhamos antes.

Temos uma posição crítica em relação a seres vivos que se mudam para nosso intestino sem ser convidados e, a partir dele, põem em prática seu planejamento familiar. Não temos muita coragem para conversar a respeito disso com outras pessoas. Quase como se fôssemos um anfitrião ruim, que não é capaz de exercer sua autoridade e, justamente por isso, acolhe todo tipo de gente estranha sem questionar. Contudo, com os oxiúros é um pouco diferente: são hóspedes que nos acordam cedo para o esporte matinal e, em seguida, fazem em seu anfitrião uma massagem que estimula o sistema imunológico. Além disso, dificilmente comem tudo, sem deixar nada para nós.

Não é bom tê-los sempre, mas uma vez na vida não é problema. Os cientistas supõem que “a oxiuríase em crianças” pode protegê-las de asma intensa ou de diabetes na vida futura. Nesse sentido, “welcome Mr. & Mrs. Oxiúro”. Mas, por favor, não abusem da hospitalidade! Pois três coisas podem acontecer em caso de oxiuríase descontrolada e que não são nada divertidas:

1. Quando não se consegue dormir direito, perde-se a concentração durante o dia, fica-se mais inquieto e sensível do que de costume.

2. O que os oxiúros não querem – e nós também não – é que se percam. Se não permanecerem em seu devido lugar, que vão embora.

Afinal, quem vai querer um oxiúro com senso de orientação tão ruim?