Toxoplasmas – Intrépidos passageiros de gatos – Parte 1

O papel da flora intestinal
7 de novembro de 2016
Toxoplasmas – Intrépidos passageiros de gatos – Parte 3
28 de novembro de 2016

Toxoplasmas – Intrépidos passageiros de gatos – Parte 1

Uma mulher de 32 anos está raspando na parte interna do pulso uma lâmina de barbear, comprada em um supermercado de descontos. É esse estímulo que a leva a fazer isso. Um fanático por automobilismo de quinze anos bate o carro com tudo contra uma árvore e morre. Um rato deita na cozinha, bem ao lado da tigela de comida do gato, dispondo-se como uma deliciosa refeição. O que esses três casos têm em comum? Eles não apenas ouvem seus sinais internos, que, no interesse da nossa grande associação celular, no fundo só querem nosso bem. Nesses três casos, há ainda outros interesses além daqueles de seu próprio corpo, que em algum momento poderiam ter saído do intestino de um gato.

O intestino dos gatos é a pátria do Toxoplasma gondii. Esse minúsculo ser consiste em uma única célula, mas já é classificado entre os animais. Em comparação com as bactérias, chama a atenção o fato de que a informação genética dessas criaturas possui uma estrutura essencialmente mais complexa. Além disso, tem outras paredes celulares e supõe-se que uma vida um pouco mais emocionante. Os toxoplasmas se multiplicam no intestino dos gatos, que são seus “hospedeiros”. Todos os outros animais que por um breve período servem aos toxoplasmas como táxis para o próximo gato são chamados de “hospedeiros intermediários”. O gato só pode receber toxoplasmas uma vez na vida e somente nesse período é perigoso para nós. Geralmente, gatos mais velhos já superaram sua infecção por toxoplasmas e já não nos fazem mal. Em uma infecção recente, os toxoplasmas amadurecem nas fezes dos animais e, depois de cerca de dois dias na caixa de areia, estão prontos para infectar o próximo gato. Se em vez de outro gato passar por ali um mamífero proprietário de gatos, que, consciente de suas obrigações, remove a areia da caixa com uma pá, as minúsculas criaturinhas primitivas o infectarão. Essas criaturas presentes nas fezes do gato podem esperar até cinco anos por um novo hospedeiro. Portanto, não precisam encontrar, necessariamente, um proprietário de gatos – felinos e outros animais circulam por jardins, hortas ou, de vez em quando, são mortos. Uma das principais fontes de toxoplasmas é o alimento cru. Em porcentagem, a probabilidade de um indivíduo conter toxoplasmas é aproximadamente tão elevada quanto sua própria idade. Cerca de um terço de todos os seres humanos no mundo os abriga.

Os Toxoplasma gondii são considerados parasitas porque não vivem em um pequeno pedaço de terra de um lugar qualquer, podendo se aproveitar de águas e plantas, e sim em pequenos fragmentos de seres vivos. Nós, humanos, os chamamos de parasitas porque deles não recebemos nada em troca. Pelo menos, nada positivo no sentido de aluguel ou afeto. Ao contrário: eles podem nos prejudicar parcialmente, na medida em que promovem uma espécie de “poluição ambiental do ser humano”.

Em humanos adultos e saudáveis, não mostram efeitos muito importantes. Algumas pessoas sentem sintomas semelhantes aos da gripe, mas a maioria não percebe nada. Após a infecção aguda, os toxoplasmas mudam-se para apartamentos minúsculos em nossos tecidos, onde se entregam a uma espécie de hibernação. Embora nos façam companhia pelo resto de nossa vida, são inquilinos tranquilos. Depois de participarmos desse processo, nunca mais nos contaminaremos com uma infecção recente. De certo modo, já estamos alugados. No entanto, uma infecção como essa pode ser dramática durante a gravidez. Os parasitas podem chegar ao feto através do sangue. O sistema imunológico ainda não os conhece e não é rápido o suficiente para interceptá-los. Nem sempre é assim que acontece, mas quando acontece pode provocar graves danos e até aborto. Quando se detecta a infecção bem cedo, podem-se tomar medicamentos. Mas, como a minoria das pessoas os recebe, as perspectivas de tratamento não são nada boas. Se no início da gravidez o ginecologista perguntar à gestante coisas curiosas, como: “Você tem gato?”, ela não precisa se preocupar, pois tem um especialista bem formado ao seu lado.

[Confira a segunda parte do post]